Terça-feira, 09 de julho de 2024 - Por Lidia Torres
Projeções climáticas indicam prejuízos para a produção de café no Brasil
Pesquisa feita na Unicamp analisou dois modelos de projeção climática, abrangendo o período de 2010 a 2070

Pesquisadores da Unicamp utilizam modelos de projeção climática para analisar o futuro da cafeicultura brasileira, destacando a necessidade de adaptação e mitigação dos impactos.
A pesquisa, que faz parte do projeto Coffee Change, analisou dois modelos de projeção climática, Miroc5 e Hadgem2-ES, abrangendo o período de 2010 a 2070. Foram estudadas as regiões produtoras de café em todo o Brasil, com foco especial nos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Bahia.
O estudo sobre as variações climáticas na cafeicultura brasileira mostra que, embora existam diferenças entre as projeções dos modelos climáticos, todos os cenários projetados indicam impactos negativos para a produção de café. Os resultados apontam para a diminuição na quantidade da produção final ou na qualidade do produto.
Guilherme Torres, doutorando em geografia e um dos autores do artigo, em entrevista destacou os principais riscos das mudanças climáticas na produção de cafés especiais no Brasil. Ele explica que a qualidade desses grãos os torna mais suscetíveis aos eventos climáticos, podendo ser os principais afetados no cenário futuro.
"A produção, em especial a produção de cafés especiais, demanda de um limiar muito mais sensível ao clima. Visto que o café especial tem toda aquela questão de aroma, sabor, coloração e as mudanças ambientais podem acabar alterando essas qualidades, que são o valor agregado que fazem com que o café especial seja vendido no valor maior", diz Torres.
Desafios na escolha dos modelos de projeções climáticas
Torres conta que os modelos de projeção climática estão interligados com a noção de Agricultura Climaticamente Inteligente (ACI). O conceito, segundo a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), é uma estratégia que orienta ações para transformar os sistemas agroalimentares em práticas sustentáveis e resilientes às mudanças climáticas.
O pesquisador fala como o estudo pode servir de base para orientar a adoção de protocolos adequados para mitigar os efeitos das mudanças climáticas e garantir a sustentabilidade da cafeicultura no Brasil.
"Essa projeção dá uma noção do que pode acontecer nas tendências climáticas futuras, ela é uma base, é um subsídio para que se possa criar com maior assertividade a estratégia mais adequada para aquela região, para aquela localidade", ressalta Torres.
Um dos principais desafios do projeto é determinar qual ou quais modelos estatísticos são mais adequados para prever as variações climáticas nas regiões estudadas. "Temos uma dificuldade muito grande em encontrar dados de clima, o que o Guilherme faz é verificar qual é o melhor banco de dados climáticos para trabalhar com essas regiões, tanto para o problema atual quanto para o clima futuro", afirma Priscila Coltri, pesquisadora do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) e coordenadora do Coffee Change.
Perspectivas Integradas
O projeto Coffee Change é uma iniciativa que reúne uma equipe de pesquisadores da Unicamp das áreas de climatologia, agronomia, comunicação, linguística e economia.
Além de analisar o comportamento da planta do café às mudanças climáticas, como a pesquisa realizada por Torres, as pesquisas do projeto adotam uma abordagem integrada, reunindo conhecimentos específicos de diversas áreas, para analisar e entender o risco econômico e a interpretação das percepções dos agricultores sobre as mudanças climáticas.
Para a pesquisadora Priscila Coltri, o sucesso do desenvolvimento de protocolos de manejo depende diretamente da adaptação ao contexto local. "Se você cria um protocolo de agricultura climaticamente inteligente que não se adequa ao contexto local, ele está fadado ao fracasso", afirma Coltri, para quem a ideia do projeto é também entender a referência local.
"Aí entram as entrevistas e pesquisas de campo, que dão essa perspectiva humana, né? Porque embora seja uma planta, quem maneja a planta são homens e mulheres que têm um contexto". Para a pesquisadora, a integração dessas respostas é fundamental para compreender como a cultura do café reage às mudanças climáticas.
As pesquisas do grupo estão em andamento e os resultados parciais são publicados em artigos, podendo ser solicitados pela rede social do Coffee Change.
Lidia Torres é pós-graduanda em Jornalismo Científico pelo Labjor/COCEN.
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