Ljubica Tassic é química da Unicamp: "A formulação está pronta e temos resultados preliminares promissores" | Foto: Divulgação.
Força Tarefa
Em março, quando oficialmente teve início a pandemia no Brasil, a equipe multidisciplinar de pesquisadores resolveu trabalhar em uma atividade que pudesse inibir a infecção ou o espalhamento do SARs-CoV-2. Deram início aos testes em abril, no Instituto de Biologia, para verificar a ação das nanopartículas de prata. Os resultados foram positivos para efeito virustático. "Chegamos à ideia de fazer um spray para usar no visor", lembra Ljubica. Na Biologia, o trabalho é coordenado pela professora Clarice Weis Arns; os pesquisadores André Luiz Jardini Munhoz e Leonardo Abdala Elias coordenam a pesquisa no Laboratório Biofabris (onde nas próximas semanas serão realizados testes de aderência nos visores que são descartados por profissionais de saúde); enquanto no CCSNano (Centro de Componentes Semicondutores), os trabalhos têm a responsabilidade dos pesquisadores Raluca Savu e Stanislav Mochkalev. Todos passaram a se engajar neste trabalho dentro da Força Tarefa Covid-19 da Unicamp. "Buscamos ações imediatas, a curto prazo, especialmente para o sistema de saúde", afirma Ljubica. No futuro, com o avanço das pesquisas, ela acredita que a formulação pode ser aplicada em cremes de uso farmacêutico ou spray para uso doméstico. A tecnologia das nanopartículas de prata (AgNPs), inclusive, já é utilizada em pomadas para cicatrização de pele, como queimaduras, já aprovadas pela Anvisa, afirma a pesquisadora. "Por isso acreditamos que estamos em um bom caminho", conclui Ljubica. O uso do spray de nanopartículas de prata, portanto, pode ser mais um método de desinfecção e proteção, que se somaria aos que são utilizados hoje, como a lavagem das mãos com sabonete e o uso de máscaras, equipamentos individuais de proteção e álcool 70. "Nós tivemos no início dos anos 2000 a epidemia SARS, depois em 2012 o MERS (ambos vírus da mesma família do coronavírus) e agora a Covid-19. Nos últimos 20 anos tivemos várias infecções virais que comprometeram a saúde no mundo todo. Acredita-se que esta não será a última pandemia que vai atingir o mundo todo", declara a pesquisadora Ljubica. "Precisamos trabalhar mais forte para buscar métodos de proteção e novos sanitizantes e materiais que podem ser úteis para desinfecção", completa. De acordo com a pesquisadora romena Raluca Savu, engenheira física do CCSNano que também participa da força tarefa, cientistas do mundo inteiro buscam hoje entender qual o funcionamento do vírus e como se dá a transmissão. "Está todo mundo estudando. Enquanto não sai a vacina, temos de achar um jeito de poder ter uma vida minimamente normal e mais protegida", afirma Raluca. Para ela, pelo menos nos próximos três anos o uso de EPIs será parte do cotidiano das pessoas. Ela também comemora os resultados preliminares da pesquisa com o spray de nanopartículas de prata. A sua pesquisa em nanocelulose para fabricação de micrografite foi incorporada ao trabalho conjunto do spray. "Estávamos pesquisando uma estrutura que desse resistência mecânica. Unimos pesquisas. Veio a ideia de usar os filmes de micrografite decorados com partículas de prata para ação antiviral, usando nas máscaras hospitalares. No futuro, podem ser máscaras para todas as pessoas usarem, criando uma barreira efetiva", conclui Raluca.Voltar
Os Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CCDs) são financiados pela Fapesp e têm como objetivo enfrentar os desafios contemporâneos em áreas estratégicas
Palestrantes da edição foram Ana Carolina Maciel, coordenadora da COCEN, e Thiago Nicodemo, coordenador do Arquivo Público de SP