I Seminário Internacional Refúgio Acadêmico
Entre os dias 9 e 11 de novembro, a primeira edição do Seminário Internacional Refúgio Acadêmico será realizada na Unicamp. O evento é uma iniciativa colaborativa de pesquisadores do Brasil e França, para fortalecer o papel das universidades no enfrentamento às crises migratórias da atualidade.
Organizado pela Cátedra Sérgio Vieira de Mello/Unicamp e pela Diretoria Executiva de Direitos Humanos da Universidade, com participação do Institut Convergences Migrations (ICM) e do Programme PAUSE, o seminário vai reunir pesquisadores, estudantes, membros do poder público, jornalistas, ativistas dos direitos humanos e pessoas em situação de refúgio, de várias nacionalidades, no auditório da Educorp. As inscrições são gratuitas, com emissão de certificado.
A programação conta com mesas de debate, palestras, apresentações de pesquisas e performances artísticas. Para dar voz às pessoas em situação de refúgio, imigrantes do Sudão, Venezuela e Síria contarão suas trajetórias e perspectivas. As atividades buscam mobilizar iniciativas concretas de acolhimento humanitário e ampliar a repercussão do tema no debate público.
Como trata-se de evento internacional, haverá tradução simultânea das mesas temáticas compostas por estrangeiros que não dominem o português e vice-versa.
O seminário conta com apoio da Cocen, Institut Convergences Migrations, Instituto de Artes/Unicamp, Ministério Público do Trabalho (MPT), Instituto Panahgah, CineRE, Fapesp, Governo do Estado de São Paulo, Agência da ONU para as Migrações (OIM), Embaixada da França no Brasil e Fundação Memorial da América Latina.
Objetivos
- Possibilitar um qualificado debate pautado nas linhas de pesquisa, teóricas e de campo, empreendidas pelos pesquisadores, grupos e instituições envolvidos;
- Ampliar e aprofundar o debate sobre o tema do "refúgio" numa perspectiva interdisciplinar;
- Instaurar um espaço de troca para o conhecimento mais recente e relevante produzido por acadêmicos, no Brasil e no exterior, sobre o tema em questão;
- Conferir um lugar de fala a artistas em situação de refúgio, através de apresentações que serão realizadas nos dias do evento;
- Fomentar o diálogo para a efetiva institucionalização de parcerias nacionais e internacionais para o pleno desenvolvimento do "Programa Refúgio Acadêmico", cuja formulação foi iniciada pioneiramente em agosto de 2021 na UNICAMP e que envolve toda a infraestrutura acadêmica e institucional da universidade.
Resultados Esperados
- Intercâmbio entre pesquisadores nacionais e internacionais;
- Troca de experiências entre agências de fomento nacionais e internacionais;
- Interação de alunos em condição de refúgio;
- Apresentações artísticas para um público mais amplo ;
- Apresentar as ações institucionais que a UNICAMP vem empreendendo no acolhimento de alunos, docentes e pesquisadores em condição de refúgio;
- Apresentar manifestações artísticas de várias nacionalidades visando inserir o tema do refúgio em outro patamar.
Refúgio Acadêmico
Desde seus primeiros anos, a Unicamp demonstra vocação para o refúgio acadêmico. Na década de 1970, acolheu muitos professores que fugiam de perseguições políticas, sobretudo da ditadura argentina. Em diversas outras ocasiões, recebeu estudantes, docentes e pesquisadores refugiados, como na crise gerada por um terremoto extremo no Haiti em 2010.
Num acordo firmado com a Agência da ONU para Refugiados, a Cátedra Sérgio Vieira de Mello da Unicamp foi instaurada em abril de 2019. Desde então, a Universidade vem ampliando e estruturando melhor sua atuação nas políticas de acolhimento humanitário, com ações de amparo e permanência para alunos e alunas refugiados, pois garantir acesso ao Ensino Superior é possibilitar uma reinserção social no país de acolhida.
Várias partes do planeta, mais precisamente cerca de setenta localidades, estão cercadas por muros ou por barreiras intransponíveis. Concreto, arames farpados, cercas elétricas e guaritas blindadas que impedem que indivíduos em fuga possam encontrar acolhimento, isto é, possam encontrar refúgio no sentido amplo da palavra. Em seu último livro,
Estranhos à nossa porta, Zygmunt Bauman cita Don Flynn - então diretor da Rede de Direitos dos Migrantes - quando este afirmava ao The Guardian que as imagens de refugiados nas ilhas gregas; dos cadáveres de crianças afogadas; das pessoas repreendidas violentamente nas fronteiras ou de migrantes/refugiados em situação de miserabilidade nos campos de confinamento (ou de concentração?), irão "constituir, para muitos, as memórias permanentes do passado". Talvez Bauman estivesse correto quando destacou esse dever de memória com a tragédia do refúgio contemporâneo. Trazer o tema do refúgio para o debate dentro da universidade vai ao encontro desse dever de memória de um drama ainda silenciado e pouco conhecido.
Refúgio, no sentido de acolhimento para pessoas em fuga, não tem se aplicado às grandes massas populacionais que chegam pelo mar, por terra ou pelo ar e que desesperadamente batem à porta. Qual seria essa noção territorial de um pretenso "pertencimento" que faz com que exista essa diferenciação entre o "eu sou daqui", em contraposição aos indivíduos oriundos de outras terras, os "forasteiros", aqueles que vem "de fora"?
A situação internacional de refúgio se agravou nos últimos anos, instaurando uma gravíssima crise humanitária, potencializada pelos eventos de agosto de 2021 no Afeganistão e o conflito armado na Ucrânia. Em pleno século XXI, há leis que separam filhos dos seus pais, leis que aprisionam crianças, leis que edificam muros e cercas, leis que encarceram ao invés de proteger, leis que confinam refugiados em campos isolados - bem distantes do olhar do resto do mundo. Em síntese, uma legislação que impede seres humanos de ir e vir.
Atualmente, verifica-se a espantosa cifra de 100 milhões de pessoas forçadas a se deslocar. Lamentavelmente, essa crise humanitária vem crescendo vertiginosamente. O conflito recente na Ucrânia, que é o maior no continente europeu desde 1945, incrementou em 11,9 milhões o número de refugiados.